Elizabeh
Povezan,
Pedagoga,
Instituto
Alzheimer Brasil - IAB.
Muitas
vezes é doloroso para a família assistir a um ente querido ninando uma boneca
ou cantando para ela, se este for um adulto. Isto é bastante compreensível.
Ninguém gosta de ver alguém que se ama regredindo a um estado “infantil”, como
acontece na Doença de Alzheimer (DA).
A Terapia
da boneca nos cuidados diários de pessoas com demência vem ganhando
reconhecimento por parte de pesquisadores da área de intervenções
não-farmacológicas, embora não seja recomendada para todos. Esta
estratégia algumas vezes não é aceita na família, especialmente por parte dos
filhos e cônjuge, pois muitos a veem como humilhante, degradante e que
infantiliza o idoso. Mas a ideia não é esta.
Diversos
estudos demonstram reais benefícios desta abordagem para as pessoas com Doença
de Alzheimer, que vai lenta e progressivamente afetando a capacidade
intelectual do indivíduo e que, com o tempo, pode fazê-lo sofrer de diversas
manifestações e consequências da doença como: depressão, ansiedade, agitação,
apatia, irritabilidade, incapacidade de se comunicar, perda da autonomia e da
independência, isolamento social, entre outras.
Alguns
estudos também defendem a ideia de que as pessoas com DA podem regredir através
de estágios do desenvolvimento cognitivo (Piaget) e assim, apresentar
interesses associados a cada fase. Vão perdendo funções cognitivas na ordem
inversa que a criança adquire. Isto talvez possa explicar porque pessoas com
Alzheimer vão infantilizando no processo da doença e justificar porque a
terapia da boneca parece ser eficiente em fases moderada a grave da doença.
O
tratamento (tanto farmacológico quanto não farmacológico) tenta controlar os
sintomas e melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dessa pessoa e dos que
convivem com ela. Porém, nada é fácil na DA e, quando há alguma possibilidade a
mais de oferecer alívio e conforto, todo preconceito deve ser extinto e a
oportunidade analisada e aproveitada, se for o caso. Não se trata de indicar
esta ou aquela terapia, apenas de demonstrar as evidências relacionadas a ela,
a experiência de quem a introduziu e tentar estimular uma reflexão sobre a
questão.
Segundo
evidências científicas, a Terapia da boneca pode trazer os seguintes benefícios
para a pessoa com DA:
·
Acalmar;
·
Torná-la mais dócil;
·
Aliviar sua aflição;
·
Reduzir o estado de confusão;
·
Aumentar a incidência de comportamentos positivos e diminuir a
incidência de comportamentos negativos e desafiadores;
·
Reduzir a agitação;
·
Permitir que a pessoa se reconecte com memórias e emoções
felizes do passado, promovendo maior estabilidade emocional;
·
Oferecer conforto;
·
Ter a sensação de utilidade (por cuidar da boneca);
·
Reduzir a incidência de comportamento agressivo;
·
Trazer memórias felizes de sua maternidade (ou paternidade), de
quando seus filhos eram pequenos;
·
Aliviar a necessidade de amar e SER amada;
·
Estimular a comunicação, a linguagem e A interação com a boneca,
família e o cuidador;
·
Estímulo sensorial.
É IMPORTANTE DEIXAR BEM CLARO DE QUE A TERAPIA
DA BONECA NÃO SERVE PARA TODOS. É preciso tomar bastante
cuidado ao introduzir (como disse a profissional Judy, na reportagem
apresentada neste site) e também no acompanhamento diário junto à pessoa com
DA, pois cada uma pode reagir de uma maneira diferente, dependendo de suas
preferências ao longo da vida e necessidades atuais. Algumas pessoas ficam
estressadas pela responsabilidade que imaginam ter com os cuidados à boneca.
Outras, nunca tiveram afinidade com crianças. Tudo isso precisa ser pensado.
No caso
de D. Libéria, a senhora da reportagem, tudo aconteceu de maneira bem natural,
pois ela foi dando sinais de que necessitava de algo assim e a filha, que era
resistente à ideia no início, percebeu e resolveu experimentar para ver se
faria bem a ela.
A
apresentação da boneca também precisa seguir alguns critérios básicos para
causar impacto positivo: deve ser feita de maneira discreta, devagar; não se
deve forçar a pessoa a pegar; jamais entregar em caixa, como presente e a boneca
deve ser bem parecido a um bebê de verdade.
Para
cuidar de uma pessoa com DA é importante entrar em seu mundo para compreender
seus sentimentos e interagir melhor com ela. Não se trata de estimular atitudes
infantis, apenas de tentar transformar seu mundo no mais feliz possível.
Os
cuidados à pessoa com DA devem concentrar-se em oferecer conforto e alívio. Se
o cuidador e a família não entenderem a natureza da DA e os valores
terapêuticos dessa ou de qualquer outra intervenção (desde que seja baseada em
evidências científicas), poderá estar perdendo a oportunidade de poder ajudar
seu ente querido a viver melhor, apesar da demência.
“Humilhante
e indigno é não poder ser feliz”.
Bibliografia
Jenny
Ellingford, Licenciatura; Ian James, PhD, MSc, BSc, C.Psychol; Lorna Mackenzie,
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